A Garota da Capa Vermelha
“Nós somos o que pensamos. Só não pense que você é um super-herói e tente voar.”
- Alany
Seu corpo doía muito. Sua armadura estava em parte enegrecida, quase que carbonizada após a luta contra o ser em chamas, qualquer movimento a fazia ranger. Tocando as costas com as palmas das mãos concluirá o que já imaginava: suas asas haviam sido destruídas na batalha. A única coisa que lembrava com exatidão era o momento onde fora incendiado. Aquilo tudo não podia estar acontecendo, mesmo para um sonho era loucura demais considerar tal situação.
Era noite e uma estranha luz banhava aquele local, azulada tal qual os nuances de lua cheia. Emeth buscou levantar-se e começou a observar, estava deitado sobre uma pedra grande que lhe recordava um altar, dentro de uma sala minúscula que não devia medir mais de 9 m². À sua frente havia uns pedaços de madeira em brasa e algumas ervas espalhadas pelo chão, o que demonstrava que ele não estava sozinho. Içou-se tateando as paredes de pedra trabalhada do ambiente para conseguir apoio, ainda estava levemente tonto e seus olhos foram aos poucos se acostumando com a neblina que banhava o lugarejo. Contudo, a visão diante de seus olhos era estarrecedora: fora daquela micro sala havia um lugar todo feito de pedras sobrepostas matematicamente.
Estavam sobre um monte, talvez uma montanha gigantesca, Emeth não conseguia distinguir. Haviam pilares, escadarias, salas menores e maiores para todos os gostos e das mais variadas formas. Esforçando na tentativa de reconhecer a localidade, Met sentia-se familiarizado mesmo sem saber como poderia já ter estado ali antes.
– Mas eu sei que já estive aqui antes... – afirmou ele, absorto nas suas indagações.
– Mas é claro que já esteve, meu anjo! – respondeu uma voz doce vinda de um dos pilares à sua frente.
– Quem é você, e onde estou? – perguntou encantado por aquela figura diante de si.
Não era possível ver sua face encoberta pelo capuz da imensa capa vermelha que cobria todo seu corpo. Por baixo da capa, a garota cobria-se com um traje negro e vermelho, adornados com detalhes dourados, e o símbolo da cruz incrustado em várias partes, inclusive uma imensa em seus braceletes e sobre seu peitoral. Trazia na mão direta uma lança enorme dotada de certo brilho na lâmina.
– Ora, me chamo Alany, meu anjo! Seja bem vindo de volta ao meu lar, doce lar. – disse a garota num tom sorridente, com movimento leves saindo da sombra onde se encontrava e se aproximando mais do jovem rapaz.
– Sua casa? – repetiu Emeth. Afinal era um local estranhamente isolado para alguém morar, mesmo que fosse sozinho.
– Sim, meu anjo! Estas são as ruínas de uma cidade que fora muito importante no passado do seu mundo, sou a guardiã daqui, e quero te agradecer por me ajudar a derrotar aquele demônio... – agradeceu Alany ainda sorrindo.
– Como assim? Nós derrotamos o demônio? Eu levei a maior surra dele pelo que me lembro... – concluiu Emeth confuso.
– Sim, está parte do seu treinamento está completa, não terá mais que enfrentá-lo novamente, meu anjo! – argumentou ela dando mais passos na sua direção, erguendo o capuz.
Seus cabelos eram de um ruivo vivo, os olhos castanhos amendoados, os lábios discretos e a pele clara. Carregava duas espadas cintilantes na cintura por baixo da capa. Seja lá o que ela fazia ali, sua postura dizia que ela estava realmente preparada para enfrentar o quer que pudesse aparecer. Mas, em todo caso, enfrentar um demônio daquele porte parecia loucura para Emeth.
– Você não pode estar falando sério... Eu me lembro que naquele momento tentei ajudar uma garotinha, ela segurava uma foice e haviam outros que estavam lá desmaiados... E... – disse Met tentando se recordar.
– Ora, meu anjo, aquilo tudo fora um teste, apenas um teste. Você já enfrentou outros e agora aquele demônio não existe mais dentro de você. Ele se consumiu nas próprias chamas. Tudo não passou de um truque da sua própria mente. – afirmou Alany em tom sério.
– Dentro de mim? Aquele demônio dizia que era eu mesmo, mas eu não acreditava como isto pode ser verdade? Eu não seria nunca demônio, ainda mais um que fosse capaz de lutar corpo a corpo comigo mesmo... – tentou se explicar angustiado.
– Meu anjo, entenda... Todos os humanos possuem demônios dentro de si, apenas os que se livram deles consegue se tornar anjos... Este é um trabalho árduo e complexo. Você está progredindo aos poucos, mas sugiro que comece a treinar sua memória sem perda de tempo, para que eu precise te explicar tudo de novo sempre. Começar do zero todo santo dia não é o melhor método para esta jornada. – a garota afirmou com severamente.
– Mas eu repito: eu lutei por uma garotinha, bem mais jovem que você e... – quis continuar ele.
– Quantas vezes eu vou ter que te dizer, meu anjo: AQUI NESTA DIMENSÃO, TODOS PODEM MUDAR DE FORMA O QUANTO QUISEREM, ou você acha que assumiu a forma de um anjo porque lhe deram ela de presente? – retrucou ela. – Nós somos o que pensamos. Só não pense que você é um super-herói e tente voar.
– Mas... – Emeth tentou continuar.
– Mas nada. Já é tarde tens que retornar ao seu mundo, ainda não estás preparado para ficar longos tempos em estado de Jinas. Aqui na quarta dimensão ou hiperespaço, seu corpo não conseguirá suportar por muito tempo já é de manhã no seu mundo das 3 dimensões, então volte... – afirmou Alany.
– E como eu faço isto? – perguntou ele.
– O Plano Astral é o mesmo que o mundo dos sonhos, para aqui que você vem à noite, querendo ou não, só que diferente da grande maioria, você tem a habilidade de colocar seu corpo físico no mundo astral. É isto que chamamos de estado de Jinas. Existem outros mundos além dos nossos, meu anjo, quem possuir a bússola de ouro poderá chegar a todos eles. Para tanto é preciso nascer de novo... – disse ela sem cerimônia.
– Nascer de novo? Eu já ouvi isto em algum lugar. E como eu saio daqui? – procurou Met.
– Para sair do mundo dos sonhos? Ora, acorde! – riu-se a garota da capa vermelha.
* * *
Longe dali, finalmente Santo chega ao seu destino: uma certa cidade aérea.
– Pronto mestre, aqui estou! – afirmou Santinho Cristopher diante do ancião.
Por João Batista dos Santos.
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