CAPITULO IV
Uma Marca Espiritual na Carne
“Tudo aquilo que está oculto é para ser revelado, caro rapaz!”
- Desmond Maynard
Emeth não sabia mais o que pensar. Estar confuso era uma descrição simplória demais, ele estava totalmente perdido. O médico, sua mãe e sua amiga acabaram de sair, mas ele sentia-se como se estivesse sozinho há anos. Isso tudo parecia um pesadelo de mau gosto.
– Queria sair daqui logo... – resmungou ele, olhando o pequeno quarto onde estava, contudo, ficou mais desanimado ainda. Qualquer pessoa em sã consciência que observasse o ambiente poderia dizer, sem sombra de dúvidas, que ele não poderia sair dali tão rápido assim. – Ok, eu não vou a lugar nenhum, o jeito é relaxar mesmo. – Emeth estava cansado, e isso só reforçava a idéia de que ele não iria a lugar algum até se recuperar.
Fechou os olhos lentamente, queria adormecer, mas imagens não paravam de brotar a cada segundo. Afinal o que significava a cicatriz em seu peito? Que local era aquele que ele visitara enquanto imaginava-se morto? Que música era aquela, que mais parecia uma profecia? Onde estariam agora a pequena fadinha e a guardiã daquele templo? Aliás, por que ele estava no tal Templo do Silêncio? Perguntas não faltavam, porém, ele não tinha resposta para nenhuma delas. Queria esquecer, queria fugir, queria não estar ali.
– Ora, senhor Hagia! Parece meio confuso, né? – disse o médico sorrindo.
Emeth reabriu os olhos e observou aquele parado à sua frente. Era alto, devia medir mais de 1,90 metros de altura, robusto, de descendência alemã ou italiana, ele não conseguia distinguir, devia ter uns 50 anos de idade. Olhos verdes acinzentados, que unidos ao sorriso, tornavam-se difíceis de compreender. Mas algo chamava muita atenção naquele homem: uma cicatriz gigantesca saia de algum lugar no seu tórax, subia pelo pescoço até sua orelha esquerda, contudo, não havia orelha! Aquilo parecia uma cicatriz de batalha, feita por algum objeto altamente cortante, uma faca talvez. No bolso do jaleco branco havia um crachá de reconhecimento: Doutor Desmond Maynard – Hospital Santa Clara.
– Espantado com minha fisionomia, meu caro rapaz? Hahaha! Não se incomode tentando imaginar onde consegui esta marca... É apenas uma velha lembrança da época do serviço militar. Doeu mas sobrevivi. Aliás, isto não é nada se compararmos à sua cicatriz! – retrucou Desmond Maynard, examinando a reação do rapaz.
– Doutor, eu to mais confuso que o senhor. Por favor, não me pergunte nada sobre isto, eu não sei nem mesmo como vim parar aqui... – disse Met, acanhando-se.
– Não é isto, rapaz! Longe de toda a parte científica do teu caso clínico. Eu estou falando da marca espiritual que você trás ai marcado no peito! – afirmou Desmond, como um jogador de xadrez que acaba de realizar um xeque mate.
– Uma marca espiritual na carne? Uai, mas do que você esta falando? O que tem de espiritual numa estrela dentro de uma mão, cunhada a força em cima do próprio peito? Você só pode estar brincando, né? – Hagia já estava começando a se irritar com suas próprias dúvidas.
– Rapaz, eu te digo que este símbolo significa muito mais do que você ousaria imaginar... – sustentou Maynard desviando o olhar para um mural à esquerda da cama do jovem.
Um silenciou tomou o recinto. O médico caminhou até o mural com passos vagarosos, e ficou parou ali por dois minutos. – Tudo aquilo que está oculto é para ser revelado, caro rapaz! – afirmou ele de costas para o jovem.
– O que quer dizer com isto, Doutor? O senhor sabe algo sobre esta marca? – indagou Met curioso.
– Eu? Não tenho nada a declarar, apenas sei que é a primeira vez que um jovem é baleado dentro de uma igreja, e chega ao hospital desmaiado e sem nenhuma bala, depois entra em coma por seis longos meses... – disse Desmond ainda contemplando os diagramas naquele quadro.
Os sons que se ouviam distantes demonstravam que viria uma tempestade lá fora, devia ser por volta das 2 horas da tarde, contudo, no interior do hospital esta noção de tempo inexistia. Aquela parecia ser uma sala hermética, fechada no tempo e no espaço, nada ao seu redor demonstrava mudança. Os segundos não passavam ali dentro, quase nada se movia, apesar daqueles bips insistentes dos aparelhos. Tudo estava quieto demais, uma calmaria irritante tomava conta de tudo.
– Você deve concordar comigo, senhor Hagia, que este mistério precisa de uma explicação plausível. Agora me diga quem fez esta queimadura no teu peito? – Desmond virou bruscamente indagar o jovem, com tal velocidade que deixou o rapaz irrequieto.
– Ora, Doutor! E como eu vou saber? Na minha mente já tinha deixado este mundo faz um bom tempo. Nunca que imaginei que fosse sobreviver aquele momento desesperador.
– Ok! Já percebi que você realmente não sabe de nada. Bom, tenho o prazer de lhe comunicar que você será removido para um quarto normal, onde acompanharemos sua melhora. Por incrível que pareça, depois de seis meses em coma você teve uma recuperação milagrosa, eu não tenho respostas para isto, mas dentro de dias você poderá estar em casa novamente. Agora durma e descanse. – disse Maynard caminhando lentamente para a porta.
– Em quanto tempo poderei sair? – perguntou Met.
– Em breve, rapaz! Em breve você estará livre novamente... – respondeu Desmond virando após abrir a porta, com um olhar que mais parecia severo do que acolhedor. Virando-se novamente saiu e fechou a porta.
Emeth sentia-se aliviado e ao mesmo tempo confuso. O que viria a partir de agora? – Ora, deixe que as coisas se expliquem sozinhas. – confortou-se ele.
Era preciso descansar realmente, seu corpo lhe cobrava isto. Acomodou-se melhor na cama de hospital, e brandamente foi adormecendo.
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