CAPITULO III
A Estrela do Presságio
“E ninguém pode comprar nem vender se não tiver a marca, o nome da Besta ou o número do seu nome.”
- São João, in Apocalipse: 13: 17
– Onde estou? – perguntou Emeth com voz bem fraca, olhando ao seu redor. Havia dentro daquela salinha mais aparelhos interligados do que ele podia contar.
– Numa unidade complexa, dotada de sistema de monitorização contínua, que admite paciente com descompensação de um ou mais sistemas orgânicos, e que com o suporte e tratamento intensivos tenham possibilidade de se recuperar – respondeu com uma voz abafada um rapaz vestido com roupas azul anil e uma máscara de proteção. Mesmo embaixo de toda aquelas roupas, os olhos azuis elétricos do rapaz tinham uma marca que Emeth que recordava de algum lugar.
– Nossa! Você parece um dicionário falante, tem como descrever de uma forma que eu possa entender, senhor... Hum, qual o seu nome? – indagou Met.
– Sim, você está numa UTI, senhor Hagia. E eu me chamo Daniel Edo, e sou responsável por você desde que entrou aqui – disse Daniel com a voz abafada.
– Você é médico, doutor, enfermeiro? – retrucou Met ainda fraco.
– Sou enfermeiro, mas seu médico não deve demorar, seja bem vindo de volta ao mundo dos vivos! – Daniel respondeu num tom de alegria espontânea, satisfeito com a recuperação do rapaz. – Você pode ficar com ele um instante, senhorita... qual seu nome mesmo? – virou-se perguntando para a jovem encantadora que aguardava calada desde o acordar do paciente. Ela lembrava as princesas dos contos de fada: sorriso encantador, olhar castanho brilhante, lindos cabelos castanhos ondulados na altura do ombro, e com uma energia interior tão grande, que exalava beleza não importando de qual posição fosse observada.
– Estefani, me chamo Estefani, e posso sim. Pode ir, afinal a mãe dele não deve demorar também – afirmou à senhorita.
– Certo, não demoro, já trago o médico dele. – disse o enfermeiro partindo.
– Como você está se sentindo, Emeth? Eu orei tanto por ti! – Estefani voltou-se para o amigo aos prantos, numa expressão de conforto.
– Uai, o que houve, por que estou aqui neste leito e desta forma? – no meio de todos aqueles fios e “bips”, Hagia sentiu-se um mutante sendo estudado por cientistas.
– Bom, foram dias difíceis, mas você vai se recuperar melhor agora, graças a Deus, todos vão ficar muito animados com seu retorno! – afirmou à senhorita chorando novamente.
– Fica assim não, Estefani! Eu to bem, mas perai... To me lembrando agora... Os disparos, meu primo, o padre assassinado... – Emeth recordava vagamente dos acontecimentos que o trouxeram àquele lugar. Trágico era pensar naquelas coisas. Mas por quê? – perguntava a si mesmo e a Deus.
– Mas do que você tá falando, Met? Padre Ricardo foi quem chamou o socorro pra você! Ele não morreu! – Estefani exclamou sem entender. – Ele explicou tudo à polícia, e durante este tempo todo rezou por você! Aliás, vai ficar muito contente ao saber que você está se recuperando.
Emeth sentiu-se sem chão. Ele tinha presenciado tudo ali de perto, viu o corpo do Padre estendido no chão, seu sangue escorrendo. Sem dúvida, fora corajoso ao se jogar na frente da bala que tinha como alvo o coração de Emeth, ao invés disto, o peito do próprio Padre abraçou aquela bala. Depois, ele mesmo teve o peito perfurado também, fazendo com que o sacrifício do Padre fosse inútil. Mas como eles poderiam estar vivos? Ainda mais intrigante era o fato: como o Padre pôde sobreviver a um momento daqueles? – É claro! O ancião! – exclamou Hagia perplexo.
– Quem? – perguntou Estefani.
– Nada, esquece! – silenciou Met, tonto, embriagado nos seus próprios pensamentos. Ele sabia que o as respostas estariam com o sacerdote, seu mentor de todas as horas. – Mas me diga o que aconteceu com o Santinho?
– O Padre disse que ao acordar não havia mais ninguém além de vocês dentro da igreja. Mas disse também à polícia que seu primo foi o responsável por tudo! – Estefani piscou e continuou. – Só que o Padre está mais confuso que você!
– Uai, mas por quê? – perguntou Met.
– Bom, o Padre não conseguiu explicar à polícia como ele fora baleado e logo depois estava ali, de pé, sem bala alguma no corpo, apesar de ter sangue espalhado por toda a batina, seu próprio sangue! Além do mais, ao invés de perfuração da bala, ele tinha uma cicatriz imensa no peito exatamente no lugar aonde o tiro acertou. Uma cicatriz em forma de mão com uma estrela de nove pontas no centro, igual a que você tem! – disse Estefani esperando uma resposta.
– Hã, o que você disse? Eu não tenho nada disto! – Emeth ficou ainda mais sem noção.
– Tem sim! – disse sua mãe entrando no quarto. – Quer ver rapazinho? – ela insistiu abrindo a roupa do rapaz. E lá estava, como que marcada a ferro, uma queimadura em forma de mão com uma estrela de nove pontas no centro. – Você pode no explicar isto, Met? – indagou Morgana Hagia, esperando a resposta do filho. Ela detinha toda vida este jeito curioso, adorava saber tudo sobre o filho. Seus olhos negros estavam atentos, suas mãos ajeitavam a longa cabeleira negra e esvoaçante. Emeth não se lembrava de ver a mãe com todo aquele peso: com certeza estava acima do peso que ele conhecia. Aparentava ter sofrido muito em pouco, talvez fosse depressão suponha Met. Era a prova viva de que tamanho não é documento, com seus 1,45 metros de altura, nenhum problema, por maior que fosse, afastava-a do filho.
– Eu o que mãe? Eu nem sabia que tinha isto... – Met mostrou-se incrédulo, apoiando-se na cama e esforçando-se para observar o próprio peito. A cicatriz era enorme e tinha a forma de uma mão humana, com a estrela de nove pontas no centro. Mas como alguém poderia ter feito tamanho estrago no peito dele, ainda mais no local exato do ferimento à bala? As coisas estavam mais confusas que ele poderia pensar. Sua imaginação não era tão fértil, nem mesmo em sonhos.
– Ora, calma pessoal, agora ele acabou de se acordar depois de seis meses na UTI, ele não pode se exaltar! – disse o médico ao entrar no quarto.
– Seis meses? Caraca, eu morri e voltei só agora? – Emeth afirmou desesperado.
– Calma, filho! Sou o doutor Maynard! E agora mesmo conversamos. – disse o médico fazendo sinal para que a mãe e a amiga do rapaz o acompanhassem para fora da unidade de tratamento intensivo. – Me aguarde, meu caro rapaz! – exclamou Maynard.
Emeth sentiu seu coração bater acelerado, um arrepio o tomou dos pés à cabeça. – Vem vindo uma tempestade!? – ele não sabia se estava afirmando ou perguntando, mas sabia que sua vida estava prestes a mudar. – Senhor, o que queres de mim? – perguntou aflito e inseguro.
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